Conscientização
Na estrada, há 250 dias, para disseminar um alerta
DP volta a conversar com o frei Marcelo Bica, que cruzará os cinco continentes a pé com uma mesma missão: prevenir a Aids e combater o preconceito
A mensagem se propaga há exatos 250 dias, em pelo menos dois idiomas. Já são 4.286 quilômetros percorridos e três fronteiras da América do Sul cruzadas. A pé. Sete meses depois de deixar Pelotas, o Diário Popular volta a conversar com o frei capuchinho Marcelo Monti Bica, que decidiu engrossar a voz de portadores do vírus HIV, gerar reflexão e exterminar preconceitos estrada afora. Pelos cinco continentes, ao longo de uma década.
Foi assim, em uma dessas tantas andanças, direto da cidade de La Serena, no Chile, que o porto-alegrense de 40 anos bateu papo com o DP. Ali mesmo, à beira da rodovia, entre um passo e outro, com sons de veículos ao fundo. E através do Caminho de Aline, Volta ao mundo a pé pela vida e contra a Aids, Marcelo já tem atingido um dos grandes compromissos da peregrinação: fazer com que o tema permaneça em pauta, para além da semana que cerca o 1º de Dezembro; Dia Mundial de Luta conta a Aids.
E defende a ideia com o peso de quem, em 2008, viu os efeitos dentro da família, da pior maneira. "O que matou a minha irmã (Aline) foi o preconceito. O medo de ter que dizer para os familiares que tinha HIV. O medo de ser vista como um rótulo, uma doença, quase como uma criminosa", destaca. E vai além "Foram os esteriótipos, todos os estigmas que ela rejeitou, que não quis, que teve medo de enfrentar e não tem que enfrentar. A gente tem é que destruir isso", reforça o frei, que ainda tem na bagagem o trabalho na Casa Fonte Colombo dos Franciscanos Capuchinhos, na capital gaúcha, voltada ao atendimento de soropositivos.
E para derrotar a vasta lista de preconceitos só há um rumo: debate, informação e empatia. Aprender a colocar-se no lugar do outro. Um desafio diário que ele também está determinado a disseminar ao redor do globo, em contato com homens e mulheres. De todas as idades, etnias e classes sociais.
Os relatos, as muitas acolhidas
O roteiro está traçado, até que os 90 mil quilômetros possam ser cumpridos. As surpresas, os relatos e as muitas histórias em tom de desabafo e de superação dão sentido aos dias. São vivências para guardar na memória, como o Natal e o Ano-Novo na cidade de Vila Maria, na Província de Córdoba, na Argentina, junto à família de um casal transexual. "Foi muito importante ver os pais reconhendo a identidade feminina da filha e a chamando pelo nome social".
São gestos que ajudam a tornar mais leve a caminhada, como as ligações que vez por outra chegam ao celular. Do outro lado da linha, amigos cultivados nos últimos meses, como a moradora da localidade de Las Catitas, na Argentina; uma senhora de mais de 70 anos que o abrigou em casa simples, de apenas dois cômodos. "A dona Eva me liga e diz: 'Oi meu filho, como tu estás?'"
São carinhos que o fortalecem para seguir em frente, como o afeto expresso também através das redes sociais, em mais de 20 mil acessos à fanpage por semana. Recados que tem partido de diversos cantos e nacionalidades, mas em especial da cidade de Barros Cassal, no Rio Grande do Sul - onde atuou por pouco mais de um ano -, e dos hermanos uruguaios.
Relembre
O frei Marcelo Bica, formado em Filosofia e Teologia, fazia mestrado em Antropologia em Paris, na França, aos 34 anos, quando uma indagação sobre como seria a vida daqui a dez anos transformou-se em semente do que hoje é Caminho de Aline. Durante a infância, na década de 1980, o porto-alegrense chegou a morar em Pelotas, por duas vezes. Ao lado da mãe e dos irmãos, fugia da miséria. Procuravam desenhar um novo futuro.
De volta ao solo pelotense, em setembro de 2018, ouviu soropositivos na ONG Gesto, bateu papo com dependentes químicos na Comunidade Terapêutica Caex, apresentou-se a jovens na praça Coronel Pedro Osório e visitou a Escola Estadual Doutor José Brusque Filho, onde foi alfabetizado. Foram dias de encontros e reencontros com velhos amigos.
Por onde já passou Caminho de Aline?
- A caminhada começou em 28 de agosto, em Porto Alegre
- Da capital, passou por Guaíba, Barra do Ribeiro, Tapes, Camaquã, Cristal, São Lourenço do Sul, Turuçu e Pelotas
- Ao deixar Pelotas, no final de setembro, o frei partiu em direção a Capão do Leão, Cerrito, Piratini, Pinheiro Machado, Candiota, Hulha Negra e Bagé
- Em 16 de outubro, Marcelo ingressou no Uruguai, em direção a Melo. De lá, tomou a rota 7 até Montevideo, passando por várias cidades e povoados
- Entrou na Argentina por Gualeguaychú, em Entre Ríos, e passou pelas províncias de Santa Fé, Córdoba, San Luis e Mendoza
- No Chile, já cruzou cidades como Los Andes, La Serena e Vallenar. Atualmente está em Antofagasta. Até percorrer mais 800 quilômetros e chegar à fronteira com a Bolívia, Marcelo Bica ainda deve permanecer cerca de um mês e meio no Chile.
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